sábado, 26 de agosto de 2006

ela

Pra compensar o jejum de imagens dos últimos meses, o post de hoje é especial. Pra Ela, A Foto. A que eu sempre quis fazer, desde o dia em que botei os pés no décimo andar daquele edifício. Ela, que traduz a vontade que eu tenho tantas vezes, de me soltar dali e sair voando sobre Recife com as asinhas de borboleta que queria ter. Ela, que mostra a boa vista (ou Boa Vista) de todas as luzes acesas da avenida, e do pôr-do-sol que tá lá todo dia, mas eu quase nunca paro pra achar bonita. Vista que eu até já tentei desenhar, numa hora de espera na janela, que seria horrível se fosse só espera. Ela, que é todinha uma visão de cidade grande, onde os carros com pressa se transformam em feixes de luz. Ela, que me faz imaginar o que acontece dentro das outras janelas. Ela, que me deixa feliz por morar mais alto, e ver um pedacinho do mundo de cima. Ela, que por si só já é cheia de poesia.


ela.

(soundtrack: Stevie Wonder - From The Bottom Of My Heart)

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

ressaca

tá. Eu jurei pra mim mesma que assim que minha camera chegasse, não ia mais ter post sem foto por aqui. Mas o cabo USB não veio junto, que legal! Aí fui ficando agoniadinha, especialmente devido à enorme quantidade de coisas que aconteceram nos últimos dias, em especial no fim de semana (é incrível, meus fins de semana estão sendo cada vez mais surreais, e nem sinto mais tanta falta da pilha de dvds que costumava assistir em casa, cercada de pipoca e Coca-cola, dando de 10 a 0 no sedentarismo de Garfield).
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Pra começar, chegou um pacotinho do Sedex na quinta. Aí, entre a camiseta do show de Roupa Nova (lindaaaaaa) que mamãe conseguiu pra mim e uns brinquinhos e um colar (surpreendentemente de ótimo gosto) que vovó mandou, estava ela. Perfeita. Pequenininha, novinha, com manuais em todos os idiomas imagináveis. Minha camera. Viva, viva, soltem fogos!!!! É uma Canon (dizem que se não for com Canon ou Nikon, a pessoa tá só brincando de tirar foto), com as devidas especificações que ficam chatinhas se eu começar a falar, mas dá certinho pra mim. Já comecei meus experimentos, e tô doidinha pra saturar vocês, meus ilustres visitantes, com as fotos mais sem-noção, mas ainda assim criativas, que eu conseguir fazer. Credo, essa coisa de gostar de fotografia pega, viu mãe? É só ter uma camera na mão...
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Tá. Aí na sexta ia ter o show de Roupa Nova, mas deu errado e eu acabei não indo, o que não foi uma decepçãaaaaao, que eu nem tava tão animada assim, nem o priminho que ia comigo, mas fiquei chateada porque não ia estrear a camiseta do show e a camera ao mesmo tempo. Tudo bem. Acabei indo pra uma sessão de cinema na igreja (outro dia eu escrevo aqui sobre como descobri que existe vida inteligente nas igrejas batistas), com pipoca, Coca-cola, poltroninha fofa, escurinho, friozinho, companhias impagáveis e a sensação ótima de finalmente estar me enturmando. Just Like Heaven, ou E Se Fosse Verdade, que já estava na lista das comédias românticas com soundtrack mais perfeitas que já vi. E um papinho ótimo depois com o pessoal, hihihi.
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Aí no sábado eu nem tava tão animada pra fazer trabalho de escola, escolher roupa, sair de casa, botar a cabeça pra viajar dentro dos processos que o design desempenha no cinema, etc etc etc... mas fiquei linda, tomei minha bomba de cafeína+serotonina (no final coloco a receita pra vocês) e fui pra casa de Karina, feliz e serelepe. E não é que o dia foi aaaaaaabsolutamente perfeito?? Depois de fazer o roteiro da entrevista e deixar o trabalho mais ou menos encaminhado, fomos eu, Renata, Karina e Cecília (ainda bem que Cecília dirige!) até Jaboatão dos Guararapes pra conversar com Lula Cardoso Filho, filho de Lula Cardoso pai (não digaaaaa) e ver se ele tinha alguma contribuição pro nosso trabalho. Gente, o cara é o cara. O cinéfilo mais inteligente que já conheci, que é convidado pra todas as pré-estréias da cidade, e já apadrinhou diversos cineastas iniciantes de Pernambuco. Tem mais de 1200 rolos de filme numa cinemateca devidamente adaptada pra acondicionar com segurança todos os títulos, entre eles filmes de Chaplin, de Marilyn, dos 3 Patetas, de Hitchcock, de Guel Arraes, aff! Isso fora os posters perfeeeeitos, que fazem a gente se sentir nos anos 50 e cobriam cada centímetro das paredes. E a sala de projeção, aaaai... 45 lugares só, mas tinha o mesmo jeitinho da sala de cinema de Lisbela, com aquelas cadeirinhas de madeira, os cartazes antigos, de quando cinema ainda era poesia (e agora eu corro o sério perigo de ficar saudosista igual a Lula Cardoso... calma!). Nem falo aqui da outra parte do instituto, que tinha os trabalhos de Lula Cardoso pai, designer gráfico desde a década de 30 até o fim dos anos 70. Coisa de deixar emocionada mesmo. Pois bem, a manhã foi perfeita e muito educativa. A tarde não deixou devendo. Fomos almoçar no xops Guararapes, que eu não conhecia ainda, mas as meninas semrpe diziam que é o melhor da cidade exatamente por ser o mais longe, que legal. Depois, Renata sabia de uma padaria em Boa Viagem (significa que eu vi o mar) com as sobremesas mais deliciosas e um teto redondo e amarelo, que a gente olhava e ficava tonta, sem entender direito o que era aquilo. Perfeito pra quem faz design... É, parece que ficamos amigas, mas com o papo mais cabeça que eu podia imaginar.
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E quando eu achava que o sábado já tinha dado o suficiente, pastor Élio liga pra mim, me chamando pra ir pro Integre, uma espécie de intercâmbio entre os jovens de várias igrejas. E foi muuuuuuito legal, tirando o frio glacial do ar-condicionado bem em cima de mim. Quando cheguei em casa, quem disse que queria dormim? O sono não vinha de jeito nenhum, apesar de eu já estar bem esgotada do dia todo. Fiu dormir com Richard Gere na cabeça. Até sendo traído ele é tão fofo!!
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Ok, vamos ao domingo. Cheguei atrasada na igreja (pra variar), e resolvi fazer algo diferente: fui assistir os estudos bíblicos em inglês, que pastor Guimarães fez tanta propaganda. E me senti totalmente confortável, sinal de que ainda não enferrujei :) O teacher ainda elogiou um bocado minha pronúncia, e nem precisa dizer que o ego foi lá pra as alturas. Resolvi. E pretendo chegar na hora certa nos próximos domingos (Deus sabe...). À tarde ainda fui ver o pessoal em Aldeia, e meus priminhos estão cada veis mais lindos, enormes e sapecas. E não vão me chamar de tia, porque eu não vou deixar!
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Mas o melhor de tudo, a coroação do fim de semana, foi à noite. Culto dirigido pelos jovens, lá estou eu, de pretinho básico, saltinho agulha, e me sentindo especialmente linda. Então, já que a aura tá tão boa, hora de tirar fotos (e depois vi que, contrariando murphy, saí legal na maioria, sem fechar o olho ou ficar com a cara estranha)!! E mesmo tendo quase 200 pessoas por ali, a foto tinha que ser batida com a clássica esticada de braço. Estava morrendo de saudade disso... not anymore!
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Tudo correu bem até a hora em que chamaram todos os jovens pra ir la na frente cantar. E lá vai Line Gilmore de salto agulha descendo a escada... e levando uma queda antológica, inesquecível, digna das videocassetadas mais toscas. E lá vai Mari caindo atrás, dando uma pisada na mão de Line Gilmore, que doeu pra caramba. E todo mundo que desceu atrás da gente viu, que ótimo. Mas certo, eu levantei, dei aquela risada nervosa que quem me conhece já sabe muito bem como é, vi que não tinha quebrado nada, e fui lá pra a frente cantar. Mas aí, não sei se foi porque o dedinho começou a doer depois que fiquei parada, ou se foi o nervoso, ou a falta de açúcar no sangue, o fato é que comecei a ver tudo cheio de pontinhos e escuro, e de repente estava sendo levada no colo (de saia) por um cara de mais de 2 metros, com alguem segurando minha cabeça e mais um monte de gente me olhando de cima. Me senti em E.R. Me senti mais ainda em E.R depois que vi o médico liiiiindo que me deu água-com-açúcar... acho que vou desmaiar toda semana, até ele pensar que eu tenho uma coisa séria e cuidar de mim pra sempre. Acordei rindo de nervoso, pra variar, e todo mundo tava mais transtornado que eu na salinha. Me perguntaram até se eu queria ligar pra a família... fiquei com vontade de fazer uma piadinha, mas ninguém ia entender. Só lembrava do pseudo-desmaio de Lisbela, e do "já passou, Douglas". É lógico que virei celebridade depois dessa, a menina-que-desmaiou-lá-na-frente. E tive que dizer umas 62.534.817 vezes que tava tudo bem, que fo só o susto, que não bati a cabeça, etc etc. Sobrevivi. Toca pra frente. E tome fotos de braço esticado, na festinha que teve depois, aniversário de alguém, com um bolo delicioso de morango com chantilly. A maioria saiu fora-de-foco, mas eu tenho um carinho especial por essas, as primeiras de muitas, e não apaguei nenhumazinha, e talvez até coloque aqui. Final de domingo feliz, muito punk...
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E o resultado de toda essa maratona de atividades foi eu ter acordado (quer dizer, será que acordei mesmo?) com uma preguiça de viver fora do normal numa segunda-feira. Pra começar, perdi a hora. o celulcar marcava exatamente 7:49 na hora em que abri os olhos, e a aula começa 8:00, láaaaaaa na federal, a 40 minutos e um ônibus lotado de distância. Resultado: vesti a primeira roupa que encontrei no armário (e pensar que 4 meses atrás nem cogitava a possibilidade de misturar calça jeans e havaianas), não tomei a bomba de cafeína+serotonina de todo dia, pus um pacotinho de biscoito integral na bolsa e cheguei no ponto quase a tempo de não perder o CDU-Várzea, que, bem do jeitinho que Murphy gosta, tinha acabado de passar. Maldito décimo andar. E fiquei com sono e enfezadinha a aula inteira, que teve o agravante de ser sobre planificação de um cone truncado. Line Gilmore entendeu alguma coisa? Pelo menos ela tem até segunda que vem. E se o próximo fim de semana for agitado e colorido como o último foi, vai valer a segunda-feira preguiçosa e enfezadinha, com certeza.
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(soundtrack: Louis Armstrong - What a Wonderful World).
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fim do post oficial. Agora, como prometido, a receitinha da bomba de cafeína+serotonina, que me deixa feliz e serelepe o dia todo, e a noite toda também, quando precisa:
Faça café de verdade. A concentração vai variar de acordo com
a necessidade. Reserve numa garrafa térmica.
Misture numa caneca generosa:
2 ou 3 colheres de chá ou de sobremesa de chocolate do
padre
3 ou 4 colheres de chá ou de sobremesa de leite em pó
2 ou 3 colheres de chá de açúcar, se o café estiver muito
forte
Adicione o café, que provavelmente está beeeem quente. Mexa bem.
opcionais:
Se tiver creme de leite, coloque também, e é bom que fiquem os floquinhos flutuando. Leite condensado e canela em pó são ótimas variações.
e pronto!
Saboreie apressadamente antes de correr pra pegar o ônibus, ou tranquilamente assistindo a novela/filme/programa de sua preferência, ou ouvindo músicas doces e românticas. Fica ótimo com biscoitinhos integrais, pra aplacar a consciência. Mas é o tipo de bebida que não se divide com ninguém.

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

noite de acompanhante

5 da tarde de sexta, tia Nete liga pra mim. Vou dormir no hospital com meu pai, que acabou de fazer uma cirurgia complicada no dente. Me pegou de surpresa, mas é meu pai, eu vou, né...

Corro na padaria perto do trabalho pra comprar Toddynho e biscoitos Champagne (eita biscoito bom, viu...), e no ap pra pegar minhas coisas: roupa, escova de dentes, "A Última Grande Lição", carregador de celular (só Deus mesmo pra me fazer lembrar dele - e como o bichinho foi útil essa noite!), presente de dia dos pais do meu pai, um livro que vou acabar só entregando no domingo, assim que perceber que não tem clima absolutamente nenhum pra isso. Cheiro (cheiro?) de hospital. Corredor enorme. Enfermaria 7. Quarto grande.

Meu pai parece ter uma bola de tênis na bochecha direita. Pergunta (e não sei até agora como ele conseguiu se fazer entender) se tem algodão, gaze, alguma coisa na boca. Não tem. Tá inchada mesmo.

Quarto sem ar-condicionado, mas com um ventilador potente, porém barulhento. Tudo bem. Não tem espelho em lugar nenhum, até os vidros são opacos. Nada bem... Ok, eu entendo que um quarto de hospital não é mesmo o lugar mais apropriado pra espelhos, principalmente nesse caso de meu pai, porque não é nada bom ver alguma parte de seu corpo inchada/roxa/com a forma nada comum/cheia de pontos devido a uma cirurgia. Mas isso me incomodou profundamente.

Banho gostoso, e eu mais cansada ainda depois dele.
Todos os canais pegam bem, menos a globo. Que sorte...
Biscoito Champagne com Toddynho, a melhor parte da noite.

Sono incontrolável, agravado pelo chiado da tv e pelo barulho do ventilador, que me impedem de ouvir, e consequentemente de prestar atenção na novela (é, eu vejo novela :P), e pela falta do meio litro de café que tomo toda noite, e me ajuda a suportar a leitura de livros didáticos e dissertações de mestrado nada interessantes (tá, interessantes sim, mas cansativas). Eu devia ter comprado umas balinhas de café... droga.

Vários telefonemas da família, e eu repetindo que nem uma secretária eletrônica que tá tudo bem, que o café já veio, que ele tá dormindo, o que o médico recomendou, etc etc etc.

já estou num hospital, não aguento ver mais um na novela. desculpa, Helena. cochilo.

2 da manhã. Mais telefonemas que eu perdi (e certamente não tiveram muita importância, mesmo nessa hora absurda).

Cólica. logo hoje... Então cólica é assim, essa vontade de ter o corpo todo envolto por alguma coisa fofa e macia pra ver se a dor passa, e ao mesmo tempo ânsias de arrancar fora o útero. Tá, mãe, eu acredito agora. Mais biscoito Champagne com Toddynho, porque me dão a sensação de que se eu comer, a cólica passa (tavez pelo fato de que até agora, dor de barriga sempre esteve associada a comida, de alguma forma. "está na hora de rever seus conceitos..."). Pronto, achei a posição fetal perfeita.
"Claire de Lune" tocando na minha cabeça. Não sei por quê lembrei dessa música agora, só sei que veio todinha na mente, sequência certíssima.
Algum filme quase mofado passando na globo. Muda de canal. Filme bonzinho com Keanu Reeves terminando no sbt. Que sorte...

6 da manhã. "Gostei muito que você veio ficar aqui comigo". É, só isso já vale.
Seria tão mais fácil se a cirurgia dele tivesse sido em qualquer outro lugar, menos na boca... não dá nem pra conversar, que saco.

Chaves. adooooro, mas quem consegue prestar atenção?
8 Simple Rules. um tempão que não via essa série. É bem engraçadinha. Como o sbt está ficando igualzinho aos canais norte-americanos! O que é uma lástima na maior parte do tempo, mas num sábado de hospital é exatamente o que eu preciso.
Outra série engraçadinha com risadas falsas pelo meio, esqueci o nome mas é alguma coisa com família. É, sbt é mesmo o melhor canal pra assistir dia de sábado.

Vovó no telefone, dizendo que o médico já deve estar chegando. Hora de arrumar as coisas...
Café da manhã (eu doida pra que trouxessem um cafezinho preto...): pão com manteiga, comível porque está quentinho, leite com 0,0001% de café, não bebível, mingau de sei lá o quê, quem disse que eu me arrisco?... Sorte de meu pai, que só toma água. Eu fico com meus biscoitos Champagne e Toddynho mesmo. O que provavelmente vai me dar uma indigestãozinha mais tarde.

"A Última Grande Lição", finalmente consegui me concentrar pra ler. Morrie Schwartz torna melhor meu começo de dia, e é extremamente cativante. Lembro do filme. Chorei um pouquinho no filme, chorei bem mais agora. É impressionante o poder das palavras escritas, que fazem a gente se colocar no lugar dos personagens, muito mais do que numa tela de cinema ou de tv.
Tia Dinah, filosofia, 8a série... aposto que teria sido pra mim o que Morrie foi pra Mitch se tivéssemos passado mais tempo juntas. Teve que sair antes de terminar o ano letivo por causa de um problema na coluna, e até onde eu sei, nunca mais voltou a ensinar, talvez porque a maioria dos alunos não a entendesse, e o esforço não compensava. Mas eu entendia. E mesmo que tenha sido minha por menos de um ano, ela é a professora que eu nunca vou esquecer, que enxergava a vida do lado de dentro. Ela publicou uma de minhas poesias num livro. Mãe, mostra isso a ela...
O livro acabou rápido demais.

Médico, até que enfim! Pelo jeito de falar, não é brasileiro. Mas tô absolutamente sem humor pra ser curiosa e acabar ouvindo uma história imensa.
Recomendações, receita, alta. Ufa. Cabou.
Pai, não invente outra dessas tão cedo, pelo amor de Deus.

(soundtrack: Claude Debussy - Claire de Lune)

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

conversinha

? diz:
ah, adivinha que filme eu assisti esses dias
Line diz:
os adivinhos não entrarão no reino dos céus :P
? diz:
kkkkkkkkkkkkk
chuta, vai

(será que é Moulin Rouge? Todo mundo lembra de mim quando assiste Moulin Rouge...)


Line diz:
num tenho a mínima idéia
diga
? diz:
chata

(alguns segundos)

? diz:
Moulin Rouge
Line diz:
num acreditooooooooooo
nhaaa
eu juro que pensei em falar
? diz:
e por que não falou?
Line diz:
sei lá, medo de errar
esqueci que eu nunca erro

...
O post de hoje definitivamente não tem moral da história.

(soundtrack: Marisa Monte - Três Letrinhas)

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

amores serão sempre amáveis

Aí domingo passado, 11 da noite, Chico cantou pra mim, olhando nos meus olhos, com aqueles verdes dele:
...
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
...
É, deve ser isso mesmo. Parece que ele dizia, feito um pai que entende das coisas, pra eu ter calma, menina. Ainda bem que tenho todos esses fragmentos de cartas, poemas, mentiras, retratos, vestígios... e não me desfaço deles nunca. Quem sabe isso tudo é verdade, que o meu amor está esperando em silêncio num fundo de armário... eu quero que esteja, prefiro assim. Milênios, milênios no ar.

(soundtrack (mais óbvia impossível): Chico Buarque - Futuros Amantes)