sábado, 10 de fevereiro de 2007

sundown

Hoje passei a tarde na praia de Boa Viagem. Uma das raras vezes que vou à praia pra não tomar banho, e fico muito tempo. E deu aquela saudade das minhas praias de água fresquinha, areia fina, milhões de conchinhas e ninguém por perto num raio de muitos quilômetros, muito menos os famigerados tubarões que costumam aparecer por aqui.
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A praia da Avenida, ao alcance da vista, a dois quarteirões de distância, onde eu levava Mel pra passear, e ela adorava. E ficava molhada cheia de areia até os ossinhos. E eu nem ligava pra o trabalho de dar o banho e desembaraçar o cabelo dela, porque ela ficava feliz.
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A praia do Cristo, sem ondas e cheia de caiaques, lanchas de turistas e crianças com bóias de bichinhos. Essa era só pra refrescar depois de uma manhã bem muito quente, e era meio misturada com água doce, por causa do rio Cachoeira, que desemboca no mar.
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As praias do Sul, cheia de pedras e aventuras nas pedras, e um ouriço-do-mar de vez em quando. Pedras que eu adorava subir com meu pai e Kiko, só pra dizer que conseguia e não tinha medo. E aposto que minha mãe ficava com o coração na mão, com medo de eu me cortar com algum pedaço de concha.
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A praia dos Milionários, com cabanas enormes, som enorme, turistas enormes, preços enormes e uma quantidade enorme de vendedores de seja-lá-o-que-for que dá pra vender na praia: tatuagem de henna, amendoim, camiseta, chapéu, óculos de sol de 10 reais, brincos de concha, camarão no espeto, água de côco, rede, enfim... gostoso era o mar, pra passar um tempo olhando e depois cair com gosto, sem medo. Porque só o que não é enorme lá são as ondas.
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A praia perto do hotel Jubiabá, tão frequentada pela família, que tinha ondas boas que eu adorava esmurrar. Até hoje adoro o cheiro de Sundown e a lembrança de toalhas e cangas estendidas no banco de trás do carro, onde normalmente ia muito mais gente do que o permitido, e a pele ardendo, mesmo com todo o Sundown, inexplicavelmente...
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A praia do Siri (nem lembro se o nome é esse mesmo), onde meu avô me levava, nas suas loooongas caminhadas de outros tempos... a lembrança que eu tenho é da imensa concentração de conchinhas na areia, que me rendiam o boné de meu avô cheio delas no fim da manhã. E ele o tempo todo passando protetor solar e rindo. E a moqueca de peixe de Zena depois, no almoço.
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A praias sem nome certo, que a gente levava os hóspedes que ficavam lá em casa. Deliciosas, não só por elas, mas pela companhia. E pela certeza de comer um monte de caranguejos depois, e de um sono gostoso, cansado, de tarde. Minha mãe era uma anfitriã muito previsível...
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A praia de Serra Grande, que de quebra tinha uma casa, com toda a estrutura característica de casa-de-praia (colchões velhos e mofados, muitas esteiras, insetinhos, chuveiro frio e forte, cheiro de maresia), pra passar os fins de semana. Era a parte boa do fim-de-semana. E as visitas iam pra lá também, lóoooogico. Eu lembro vagamente de ter tido um aniversário meu por lá, acho que o de 12 anos.
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E todas as outras infinitas praias de Ilhéus, que de cabeça não dá pra lembrar. De vez em quando eu acho incabível que Recife, desse tamanho, só tenha uma praia urbana semi-frequentável. não me acostumo com a idéia de viajar 2 horas pra chegar num lugar que dê pra cair no mar, catar conchinhas, fazer castelos, farofar, enfim, todas essas coisas de praia. Agora entendo as famílias de filmes, que vão à praia cheias de malas, sacolas, cadeiras, apetrechos pra passar só um dia. Só lembro mesmo da canga enorme de minha mãe, do Sundown e, de vez em quando, uns óculos de sol.
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Sei lá, vou ter mesmo que me acostumar com Boa Viagem. Mas sabem que foi legal? Também, aquela penca de doidos estudantes de design (eu inclusa, obviamente) faz qualquer programa de índio ser divertido, mesmo que seja ir a uma praia impossível de tomar banho, sem trajes apropriados, sem grana pra coisas de praia e o pior: sem Sundown. E entrar na água até o joelho, molhando saia e tudo, e depois ficar à milanesa, com areia até os ossos, que nem Mel. Só quero saber onde foi passear minha sanidade mental.
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(soundtrack: Corinne Bailey Rae - Choux Pastry Heart)