sábado, 7 de julho de 2007

me matem, eu li um livro de Augusto Cury

Eu gostaria de dizer que foi, num dia de bom humor, um esforço pra quebrar meu preconceito contra livros de auto-ajuda. Mas na verdade catei o livrinho porque as outras opções de coisas-pra-fazer-na-casa-de-vó-cheia-de-gente-barulhenta-no-fim-de-semana eram:
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a) ficar rondando a churrasqueira na espera por um espetinho de carne, ou b) ficar rondando o fogão à espera da panela de cobertura do bolo, ou ainda c) ficar rondando o escritório à espera de um computador desocupado.
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Como eu não queria nem engordar nem me stressar, fui ler, é claro. Um livro que não sabe se é romance ou auto-ajuda (eu sei: é auto-ajuda disfarçada de romance, e odeio quem não se assume), em que o protagonista é um alter-ego muito mal alter do próprio Augusto Cury: jovem estudante de medicina, idealista, sonhador, que fica chocado com a falta de sensibilidade que os médicos renomados têm com os cadáveres (!) e resolve desvendar a história de um deles, o Poeta da Vida (cof cof). Para isso se disfarça de indigente e vai viver nas ruas, tentando entender as personalidades brilhantes por trás dos doidinhos de rua e descobrir a verdade sobre o tal Poeta, que no fim das contas foi o médico fundador do Hospital das Clínicas, que perdeu a esposa e os filhos num desastre e enlouqueceu. Ops, estraguei o final... mas adivinhem só? Não quebrei nem um pouquinho meu preconceito contra livros de auto-ajuda. Continuo achando - e agora falo com conhecimento de causa - que só quem se auto-ajuda são os autores, que faturam milhões às custas dos traumas dos reles mortais que compram (e pior: dão de presente) esses livros cheios de frases feitas e filosofia de botequim. O tal médico-sonhador-idealista não se cansa de fazer propaganda de suas descobertas revolucionárias, do tipo todos os nossos atos têm consequências (jura?), e obviamente é malvisto pelo malvado-e-retrógrado-diretor-do-hospital, que não aprova sua maneira afetuosa e gentil de tratar os pacientes. É claro que no final o diretor-coração-de-pedra cai em si, pede desculpas e adota uma postura mais humana, bla bla bla.
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É impressionante como até um livro de auto-ajuda consegue ser tão maniqueísta. Mais impressionante ainda é o uso exaustivo de expressões como "palco da vida", "anfiteatro da mente", "cortinas do conhecimento". Acho que Cury na verdade é um ator frustrado... Aí me pedem pra dar um desconto, porque O Futuro da Humanidade (é esse o nome do livro, bem sugestivo, não?) é o primeiro romance dele, que provavelmente não tinha a técnica aprimorada que tem hoje pra escrever (cof cof). Mas Lauren Weinsberger foi jornalista por anos, e seu primeiro romance foi O Diabo Veste Prada. Que - além de ser deliciosamente irônico, demonstrar não técnica, mas naturalidade e provocar um divertidíssimo esforço imaginativo - é extremamente comercial, mas pelo menos assume.
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Não tenho nada contra quem gosta das pilulazinhas de otimismo barato, e não duvido que os conselhos realmente tenham algo que se aproveite. Tenho, sim, muita coisa contra quem vende as pilulazinhas querendo posar de salvador do mundo (e o pior é que meio mundo de gente considera o cara um gênio). Mas o que mais me irrita é uma criatura que não me conhece querendo me dizer o que fazer, como se a fórmula pra ter uma vida feliz fosse a mesma pra todo mundo, como se todas as pessoas fossem brinquedos de montar, todos com o manual de instruções igual. E só pra registrar, também odeio qualquer tipo de manual de instruções.
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e o melhor de tudo: digam se ele não é a cara do senhor Miyagi!
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(soundtrack: Beatles - All My Loving)