quarta-feira, 1 de novembro de 2006

borboletas amarelas

Terminei de ler Cem Anos de Solidão essa semana. E à medida que ia chegando o final, deu aquela agonia de terminar logo, saber o final, embora soubesse que não seria lá muito feliz. Pra quem sempre entendeu e foi ensinada que os clássicos da literatura eram Machado de Assis, José de Alencar, Aluísio Azevedo e todos esses autores que nos obrigam a ler na escola, García Marquez, também como clássico, dá de 10 a zero (tá, em Machado dá de... 2 a zero, vá lá). Uma leitura incrivelmente gostosa e sedutora, daquelas que prendem os olhos e só deixam a mente voar dentro da história. Não me admira que tenha sido um estrondoso best-seller quando chegou às prateleiras pela primeira vez, na década de 60. E muita gente (os mais metidinhos a cult) costuma dizer que é um livro pra as massas. Pois eu adorei justamente por isso, por ser fácil na medida do possível e abrangente, e tecer uma imagem ao mesmo tempo real e mágica do povo latino, daquele povo que a gente vê nas fotos da National Geographic, sabe?
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Ao todo foi quase um mês mergulhada no universo mágico de Macondo, um vilarejo perdido em algum lugar da Colômbia (e só fui descobrir que era na Colômbia já no meio da história, porque o autor não faz esforço nenhum pra explicar nada), e no clã dos Buendía. Percebi que devia ter seguido o conselho das várias resenhas na internet, e ler o romance com um caderninho do lado, pra não confundir todos os Aurelianos e José Arcadios. É, todos os descendentes do patriarca se chamavam Aureliano ou José Arcadio. E todos tinham a marca da solidão e algum grau de loucura em sua vida. E é claro que o nome tinha muito a ver com essas maldições hereditárias. E das mulheres que viviam cem anos, a única que conseguiu ser feliz de amor morreu no parto.
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As ruínas do galeão espanhol de José Arcadio Buendía, a fascinação de Aureliano ao ver gelo pela primeira vez, as 32 guerras do Coronel Aureliano e seus 17 filhos que ficaram pra sempre marcados com uma cruz de cinza na testa, Pilar Ternera e Úrsula Buendía, as mulheres centenárias que eram os únicos pilares (pegou, pegou?) de sanidade da história, as borboletas amarelas deMauricio Babilonia, os pergaminhos de Melquíades, os peixinhos de ouro do Coronel Aureliano, o trágico triângulo amoroso de Rebeca, que comia terra e cal das paredes, Amaranta, que tinha em si tanto amor que acabou por não dá-lo a ninguém e Pietro Crespi, o italiano da pianola... A frieza católica de Fernanda del Carpio, que só urinva em penicos de ouro, a praga da insônia trazida por Rebeca, os gêmeos Aureliano e José Arcadio Segundo, que eram tão um só que confundiram suas personalidades e só as destrocaram no túmulo, a tragédia de 3 mil mortos em uma única tarde, que só José Arcadio Segundo viu, a ascenção ao céu de Remedios, a Bela, as histórias de amor e sexo incestuosas e frustradas, o tempo que não passava, girava em círculos... é impressionante a quantidade de coisas mirabolantes num livro só, que cobre um século de histórias tristes e misteriosas, fantasmas que teimam em não ir embora e personagens que a gente nunca tem certeza de que estão vivos mesmo.
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Os Buendía não deixaram descendentes, porque o último Aureliano nasceu com rabo de porco e foi comido pelas formigas vermelhas. A história, que está toda nos pergaminhos de Melquíades, termina com a constatação de que a uma estirpe condenada a cem anos de solidão, não é dada uma segunda chance. Terminei triste com a história e por ter termindado, que por mim ficava lendo pra sempre, mas feliz de ter entegue minhas emoções a uma história, porque histórias sempre têm algo a acrescentar. Talvez um dia eu encontre a moral da história.

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O Cara.
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(soundtrack: Chico Buarque - Tanto Amar)