quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

ela disse (quase) tudo

Roubado da Clara McFly. E comentado. Porque o espírito de Amélia (a que era mulher de verdade) baixou em mim esses dias.

Morar sozinha é...

atravessar três quarteirões à meia-noite para comprar inseticida, porque tinha uma barata no quarto ou deixar o quarto hermeticamente trancado e ir dormir na sala, e espirrar o inseticida todo pela frestinha da porta na manhã seguinte.

dançar “Rehab” igual a uma chacrete enquanto faz um chá enquanto experimenta roupas novas.

agüentar um chuveiro obscenamente quente ou obscenamente frio por uma semana, até que seu irmão (seu pai, que seu irmão não entende dessas coisas ainda) vem dormir na sua casa e, encarecidamente, conserta o chuveiro para você.

atravessar a sala e a cozinha pelada, no escuro, para pegar uma calcinha limpa na lavanderia. E ficar se escondendo atrás das roupas penduradas para não ser vista pelo vizinho ou abrir a janelinha do banheiro que dá direto pra a lavanderia e se esticar toda pra alcançar o varal que, por sorte, não estava completamente suspenso por pura preguiça.

fazer o maior exercício para beber um gole de água direto do galão. De cinco litros.

preparar um risoto um miojo... ops! esqueci que não como mais miojo... ok, nuggets às onze da noite, só porque está com vontade.

acompanhar o risoto miojo/nuggets/farofa de calabresa com suco de uva servido em taça de cristal.

pagar 30 paus para um eletricista consertar uma mísera tomada com mau-contato, após frustrada tentativa de fazer você mesma o serviço (com uma faca de manteiga, por falta de ferramentas - ei, eu tenho ferramentas! Onde estão mesmo?...).

subir dois andares um andar, de escada, carregando seis quilos em produtos de limpeza (que no último lance pareciam doze) no muque.

esperar o quanto quiser para comprar desenhar *a mesa certa* – e, enquanto isso, comer no chão.

colar fotos direto na parede com durex.

arrumar a cama só quando está com vontade ou quando chega visita.

consertar o mecanismo de abertura da janela munida de uma faca de manteiga (ainda sem encontrar a caixa de ferramentas) e uma corda de varal.

ler e reler um contrato de aluguel sozinha. Absolutamente sozinha. E achar legal (não tanto...).

consertar o forro da bolsa com grampeador, porque, assim como “caixa de ferramentas”, “filtro”, “mesa de jantar” e “sofá”, “caixa de costura” ainda não existe nos domínios domésticos recém-ocupados. Opa, nos meus existe! Aliás, tenho caixa de costura desde antes de possuir domínios domésticos. Por outro lado, não tem grampeador... E está bom assim.

sempre dizer, sem ter de consultar ninguém, quando está bom.

E ainda:

não deixar Namorado subir e ver o tamanho da bagunça que você simplesmente não estava a fim de arrumar.

fazer uma super-hiper-mega faxina no apartamento escutando Life In Cartoon Motion, de Mika (disco imbatível pra a hora da limpeza) e dançar com a vassoura. No sábado de manhã.

olhar com mais carinho pra a seção de utilidades domésticas no supermercado, e considerar (apenas considerar) gastar menos com roupa e mais com porcelana.

(soundtrack: Jim Sturgess - All My Loving)