quarta-feira, 6 de setembro de 2006

tarde de domingo

Antes de começar propriamente o post...
...
quando escrevi o título, depois de tudo já escrito, lembrei logo da música de Osvaldo Montenegro que manda que façam tardes as manhãs, façam artes os artistas, faça parte da maçã a condenação prevista... façam chuvas os xamãs, façam danças as coristas, faça amor o tempo todo, que amor não desperdiça. Faça votos de alegria, faça com que todo dia seja um dia de domingo. E surpreendentemente (ou não) estou gostando cada vez mais dos domingos.

Ando enfrentando sérios problemas de concentração ultimamente (acho que sou DDA igual mamãe), o que não colabora em nada quando se trata de trabalhos de escola. Resolvi ficar em casa no fim de semana, justamente pra correr com os tais trabalhos, e o resultado foi desastroso: no sábado, estavam todos começados, e só. Aí, no domingo, resolvi sair um pouquinho, pra ver se mudando de ares conseguia me concentrar. Depois da escola bíblica, então, lá vai Line Gilmore pro Recife Antigo, com o seguinte plano:
  • dar uma volta pelos prédios antigos e pelo Marco Zero.
  • sentar calmamente numa mesinha da praça de alimentação do Paço Alfândega e deixar a inspiração fluir pra escrever uma introdução cabulosa pro trabalho sobre Surrealismo.
  • esticar a tarde na livraria Cultura, ou Paraíso.
Só esqueci - e lembrei quando cheguei lá, antes de me arriscar a uma situação mais que constrangedora - que pra sentar calmamente numa daquelas mesinhas do Paço Alfândega, a pessoa tem que ter muito dinheiro, e estar muito bem disposta a gastá-lo (quem dá R$9,90 em 6 pãezinhos (zinhos) de queijo? Levanta as 2 mãos assustado...). O shopping é o templo máximo da ostentação pernambucana, sendo difícil, quase impossível, encontrar nas vitrines qualquer preço com menos de 3 dígitos. Mas ainda bem que os ricos (os que ostentam apenas a classe de ser simples) andam de havaianas e camisetas de lugares legais, e era justamente assim que eu estava. Mas mesmo assim me senti not belonging there (motivos óbvios). Tinha uma feira de antiguidades acontecendo no 1º piso, com coisas lindas, cheias de histórias e muito caras... e pra variar, Mr. Blogger tá aprontando comigo de novo, e não dá pra colocar foto. :P

Mas eram 12:30, eu já tinha passeado pelo Marco Zero, a tal introdução também estava na estaca zero (não resisti ao trocadilho), a Cultura só abria as 14:00. Que fiz eu? Saí do templo da ostentação e ao topar com o 1º carrinho de tapioca que havia pela frente, achei meu almoço. Depois achei uma pracinha cujo nome não sei, mas é uma delícia, sentei num banquinho, e aí a inspiração (inclusive para este post, que foi escrito lá) veio, junto com o vento gostoso que chega do Capibaribe (já ia dizer "do mar"... não liguem, é a saudade). Viajei mesmo, a ponto de dizer que se fosse pintar um quadro, ele teria trilha sonora. Depois, ainda deu pra ver uma feirinha de artesanato, que acontece todo domingo, com coisas lindas e muito menos caras que as do Paço Alfândega. E o azul bem azul do Capibaribe, com as esculturas fálicas de Brennand do outro lado. Deu saudade do passeio que fiz com meus pais e meus tios, quando fomos até lá (o outro lado) de barco.
Muitos turistas (como eu já fui) entupidos de protetor solar e curiosos, com suas câmeras na mão, tendo a emoção de pisar onde Recife começou. Muitos meninos de rua também, dormindo nos bancos, e essa é a parte triste. O contraste absurdo. No Paço Alfândega, dá pra entrar de carro e não ter a mínima noção da miséria que existe do lado de fora. Só por isso (e pela imensa quantidade de lixo nas ruas) o Recife Antigo não é perfeito.
E a CulturaParaíso já estava me esperando. E no finzinho da tarde, a pipoca doce mais doce e cheia de leite Moça que já comi. E a chateação de voltar pra a vida real. Quase comprei uma rosa pra colocar no cabelo, na volta.

(soundtrack: Sino do Carrinho de Sorvete, acho que quero um)

off the record: se fosse antes de domingo, este post seria meio depressivo. Mas a tristeza vazia que aflorou no tempo inútil que passei dentro de casa no sábado assistindo aquelas sitcoms de famílias negras foi de novo jogada pro fundo com os pequenos prazeres de domingo. Qualquer dia desses ela volta.