quarta-feira, 4 de abril de 2007

mau humor

...

Eu vi que ele estava mesmo apaixonado quando armou um circo por causa dos talheres. Era inadmissível que estivessem todos com o cabo de plástico marcado por aquele queimadinho-de-encostar-na-panela, justo no dia em que ele resolveu preparar um jantar pra ela. Aliás, era inadmissível serem talheres com cabo de plástico! Deviam ser todos de ouro puro, dignos das mãozinhas de seu amor. Logo ele, que nunca nem olhava pros talheres.
...
Ele já estava diferente há um tempo. De bom humor, escutando músicas de amor, malhando, tomando banho de piscina e de sol até descascar a pele estupidamente branca com a qual sempre teve o maior cuidado do mundo... era notável que estava (está ainda) naquela fase em que o mundo fica colorido e perfeito, e não se enxerga nada um palmo à frente do nariz. Só ela. Morri de inveja. Não dela, mas da felicidade irracional que vem de brinde com uma paixão dessas. E secretamente, botei o mais morbidamente obeso dos olhos-gordos. Eu naõ queria ser assim, juro.
...
Mas desejo sim que a história complicada dos dois dê a ele muita dor de cabeça, e não o contrário. Que ele entregue o coração pra ela fazer o que quiser, e não o contrário. Que ele fique cego e abestalhado de amor por ela, e não o contrário. Pra que, depois do breve tempinho andando nas nuvens, seja ele a sentir toda a dor e frustração, e vazio, e infelicidade (que é muito difeente de simples tristeza), quando não der certo, e naõ o contrário. E que ele gaste os tubos em talheres de inox. À toa, obviamente. São meus mais sinceros votos.

(soundtrack: Michael Jackson - Thriller [é, isso mesmo, Thriller.])